A politicidade da educação ­

dezembro 19, 2018

Inicio esta escrita bastante inquieta... Vivemos um cenário bastante turbulento e sombrio... Um tempo em que a intolerância, o preconceito e a redução de direitos conquistados parecem que vão se naturalizando... 
É assustador ver como, no mês que comemoramos o dia das crianças e dos professores, o governo do Estado de São Paulo anuncia o fechamento das portas de mais de cem escolas como parte de uma tal reestruturação da rede... 
Pesquisando na grande imprensa podemos encontrar as seguintes manchetes: "Pais, professores, diretores e alunos temem fechamento de mais de cem escolas em SP"; "Alunos de SP são informados sobre fechamento de escolas estaduais"; "Mais de 1 milhão de alunos da rede estadual de SP serão transferidos". 
Vivemos tempos difíceis... A democracia corre sérios riscos de vida! 
Só no ano de 2015 pudemos acompanhar diversos acontecimentos que explicitam a urgência de recuperarmos o debate em torno da politicidade da educação. 
No âmbito municipal pudemos acompanhar o modo autoritário como vereadores e o governo municipal vetaram a proposta de Plano Municipal de Educação, elaborado coletivamente por toda comunidade de forma democrática e participativa. São aqui poucos exemplos que nos confirmam que o mundo em que vivemos "não é um produto natural nem criação de Deus, ele só pode existir por meio da política, que em seu sentido mais amplo é, (...) o conjunto de condições sob as quais homens e mulheres, em sua pluralidade e sua absoluta diferença, convivem e se aproximam para falar em uma liberdade que somente eles podem mutuamente conceber e garantir" (KOHN, in ARENDT, 2013). 
Vivemos em um território de disputas de forças. Neste lugar não existe neutralidade. Ausentar-se do debate político é favorecer um modo de pensar e de se fazer política. 
Mesmo não sendo especialista em Ciência Política, arrisco dizer em poucas palavras que a política não está relacionada apenas aos políticos como deputados, vereadores ou governos. 
A palavra política, embora bastante desgastada, tem relação com a Grécia antiga. Conforme a filósofa Marilena Chaui (2001) POLITIKA está relacionada a pensarmos questões que são de interesse publico, publicamente. Podemos dizer que a nossa vida em sociedade é um exercício político, pois precisamos pensar e decidir juntos o modo como vivemos e como desejamos viver. 
É importante ler a realidade, compreender o que se passa no campo do invisível nas políticas de subjetivação que, atuando sobre nossos corpos, produzem subjetividades conformadas, pessoas "com a vontade enfraquecida, a resistência frágil, a identidade posta em dúvida, a autoestima esfarrapada" (FREIRE, 2000c, p. 47). 
Foi lendo a Pedagogia do Oprimido, nos anos 80, que compreendi que a educação "não sendo fazedora de tudo é um fator fundamental na reinvenção do mundo" (FREIRE, 2000, p.14). A educação carrega em si a possibilidade da gestação do novo. 
A meu ver o cenário atual nos convida a dialogarmos sobre a indissociabilidade entre Política e Educação e a repensarmos nosso papel no mundo. "É preciso e até urgente que a escola se vá tornando um espaço acolhedor e multiplicador de certos gostos democráticos como o de ouvir os outros (...), o da tolerância, o do acatamento às decisões tomadas pela maioria a que não falte contudo o direito de quem diverge de exprimir sua contrariedade. O gosto da pergunta, da crítica, do debate" (FREIRE, 2000, p. 89). 
É preciso saber por que, para quem educamos... A favor de quem, contra quem atuamos no mundo... Estas são apenas algumas palavras... A reinvenção do modo como temos vivido dependerá das escolhas políticas que fizermos...

Título original: "Em tempos que o governador opta por fechar escolas, reafirmamos a politicidade da educação" 

A politicidade da educação ­ 26/10/15 ­ ARTIGOS ­ Jornal Cruzeiro do Sul
http://www.jornalcruzeiro.com.br/materia/649971/a­politicidade­da­educacao

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